Monday, July 18, 2011

RASCUNHO


Mesmo na véspera de ir embora,
Aproveitou o retorno dos camiões militares que transportavam os

Thursday, November 18, 2010

FRAGMENTOS

Anywhere

Dear my love, haven't you wanted to be with me? And dear my love, haven't you longed to be free? I can't keep pretending that I don't even know you And at sweet night, you are my own Take my hand.

We're leaving here tonight There's no need to tell anyone They'd only hold us down So by the morning's light We'll be half way to anywhere Where love is more than just your name.

I have dreamt of a place for you and I No one knows who we are there All I want is to give my life only to you I've dreamt so long, I cannot dream anymore Let's run away, I'll take you there.

We're leaving here tonight There's no need to tell anyone They'd only hold us down So by the morning's light We'll be half way to anywhere Where no one needs a reason.

Forget this life, come with me Don't look back, you're safe now Unlock your heart, drop your guard No one's left to stop you.

Forget this life, come with me Don't look back, you're safe now Unlock your heart, drop your guard No one's left to stop you now.

We're leaving here tonight There's no need to tell anyone They'd only hold us down So by the morning's light We'll be half way to anywhere Where love is more than just your name.

TRADUÇÃO

Qualquer Lugar Querido amor, você não queria estar comigo? E, querido amor, você não desejava ser livre? Eu não posso continuar fingindo que nem te conheço E que em uma doce noite você é só meu Pegue minha mão

Nós estamos partindo daqui esta noite Não há motivo para contar para os outros Eles apenas nos atrasam Então, ao amanhecer Nós estaremos à meio caminho para qualquer lugar Onde o amor é mais do que apenas o seu nome

Eu sonhei com um lugar para você e eu Ninguém sabe quem somos lá Tudo o que eu quero é dar minha vida apenas a você Eu sonhei por muito tempo, não posso mais sonhar Vamos fugir, te levarei lá

Nós estamos partindo daqui esta noite Não há motivo para contar para os outros Eles apenas nos atrasam Então, ao amanhecer Nós estaremos à meio caminho para qualquer lugar Onde ninguém precisa de um motivo

Esqueça essa vida, venha comigo Não olhe para trás, você está a salvo agora Destranque seu coração, baixe a guarda Não há mais ninguém para te parar

Esqueça essa vida, venha comigo Não olhe para trás, você está a salvo agora Destranque seu coração, baixe a guarda Não há mais ninguém para te parar

Nós estamos partindo daqui esta noite Não há motivo para contar para os outros Eles apenas nos atrasam Então, ao amanhecer Nós estaremos à meio caminho para qualquer lugar Onde o amor é mais do que apenas o seu nome

Sunday, June 17, 2007

ROMANCE

FÍNDICE: 1 - 1P; 2 - 1S 3; 3 - 2P; 4 - 2S - 5 - 5 - 3P; 6 -
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1 - 1P

Miguel Torga chamou a Trás-os-Montes Terra do Demo.
Pois bem, as terras da Beira também não o eram menos. E se assim lhe quiserem chamar, já que vos vou falar de acontecimentos passados a partir dos anos 40.
É bem conhecida a povoação de Castelmoro castro romano, transformado em contraforte a partir do séc. X e que hoje se encontra em ruínas.
Caro leitor, se passar por lá e quiser fazer uns quilómetros de caminhos ínvios, poderá, com um pouco de sorte, divisar na margem esquerda do rio Côa um casarão em ruínas que foi, nem mais nem menos do que um moinho que fornecia a farinha de centeio para esta povoação e algumas mais que se encontravam nas proximidades pois que, como se sabe, nessa altura o pão que se comia era o centeio cozido no forno público da povoação, no forno do povo como então se dizia.
Era dia de Natal. Recordo mais tarde que naquele dia de 1937 nascera na Baviera, mas com uma diferença de 100 anos a princesa Elisabete, mais conhecida por Sissi e que casou ainda não tinha vinte anos com o muito responsável imperador Francisco José da Casa de Áustria, também ainda jovem. Se o leitor estiver lembrado, a actriz Romy Schneider foi imortalizada pelo filme com o mesmo nome e se o espectador for arguto verá um pouco de propaganda casual à nossa ilha da Madeira, pois no filme vê-se a princesa numa praiazinha de areia preta perto do Funchal
Para receber os salubres raios de sol, a par da brisa do mar, poderá também ir ao encontro de uns batelões que se encontram a alguns metros da costa e usufrutuar gostosamente sol e mar a quem oferecerá também os seus mergulhos.
Pois bem, nesse dia 24 de Dezembro nasceu um menino. Lá fora sentia-se o vento que assobiava pelas frinchas que lhe sustinham a fúria de tão zangado, mas as pessoas, que o temiam, de facto, quando se encontravam aconchegadas à volta da lareira sempre acesa ignoravam-no empolgadas em conversa confortável acerca disto ou daquilo.
Antes de continuar quero lembrar ao leitor que era uns aninhos mais velho que o nosso personagem de que vos falo e portanto eu, narrador omnisciente, presenciei e acompanhei “in loco” o nosso homem. E quando digo nós é porque eu também andava por perto. Bem, mas continuemos.
Como a mulher estava em trabalho de parto, as pessoas que não podiam estar junto dela, dissertavam então, frente às linguazinhas de fogo, como é natural, acerca dos antepassados do nascituro.
A mãe, essa, era de uma família de oito irmãs, de uma terra próxima. Apesar de os pais desejarem muito um rapaz, isso não acontece e, como eram prendadas e muitas, constituíam uma atração para os rapazes que desejavam boas raparigas. Tinham uma grande casa e isso, como é natural, sempre tornava a mulher mais apetecível.
A tradição de fazer fortuna no Brasil ainda não tinha acabado entre nós. E o pai delas não foi exceção. Como se sabe, após a perda desta grande colónia em 1826 o dinheiro de Portugal extinguiu-se. Sonhava-se com a Fénix renascida que ressurge das cinzas e, então, a balada do 5º. Império era uma constante dos nossos poetas como o grande Fernando Pessoa na sua “Mensagem.” Mas milagres, tal como diz Cunha Simões num dos seus livros, temos de fazer por eles. Só que habituámo-nos a abanar a árvore das patacas e o dinheiro caía em profusão, era só apanhá-lo tal como a Gata Borralheira quando quis ir ao baile sacudiu uma aveleira e, desde os vestidos de seda bordados a ouro bem como um coche à medida de tão alta aspiração e, evidentemente cavalos da melhor raça, com cocheiro e tudo, isso foi só a madrinha bater com a varinha de condão e pronto. Tudo se transformou: uma abóbora em carruagem, oito ratazanas em cavalos e mais um rato em cocheiro e o resto caía da aveleira mágica com uma sacudidela.
Ora isso de abanar a árvore das patacas era uma herança de quem subiu a corda a pulso e, a pouco e pouco, foi angariando uma fortuna, neste caso as nossas antigas colónias de onde jorrava o ouro, a pimenta e os diamantes, para depois os vindouros esbanjarem tudo com inflação de mosteiros, vida palaciana excessivamente luxuosa e, tal como os que a perdem no jogo, esta foi-se. E casa onde não há pão, como se sabe, “todos berram e ninguém tem razão.” Berram e de que maneira, começaram logo as lutas fratricidas com a guerra civil entre o D. Pedro e o D. Miguel, por dá cá aquela palha; pretexto serve qualquer.
O nosso rapazito pensava muitas vezes que se os Portugueses de antanho administrassem com mais cuidado a fazenda que outros portugueses também de antanho mas ainda não inebriados pelo brilho de tanto ouro e diamantes, angariaram, pois que, segundo se diz em Portugal, sempre se viveu bem porque os nossos reis, graças a Deus, foram sempre muito bons administradores e foram subindo na escala económica, relativamente, claro, a uma Europa que era também essencialmente agrícola; até que lá surgiu, como dizem os poetas a sonhar com o 5º. Império, “um príncipe que tinha um sonho que era passar para lá do mar…” Bom, mas esse sonho realizou-se com sangue suor e lágrimas que deram fruto, não para os desgraçados que cimentaram os alicerces mas principalmente para os outros que se limitaram a estender a mão e colhê-os. É sempre assim, umas gerações a sacrificar-se pelas outras, tal como os pais a dar aos filhos um futuro mais risonho do que o deles.
Ora como só nos começámos a endireitar com Marcelo Caetano, como ele dizia nas mui celebradas conversas em família “Progresso em Paz”, nessa altura a esperança era o Brasil. Lutando por uma vida melhor enviavam para cá as economias com que o Chefe do Partido Regenerador foi principal promotor da política das obras de fomento, que ficou conhecida na História de Portugal, pela designação de “Fontismo”, destacando-se a sua ação sobretudo nas vias de comunicação e educação.
E lá foi o avô da criança rumo ao promissor país da América austral arranjar umas massas que lhe dariam direito de casar com uma das mulheres mais ricas da região.
Porque o Quinto Império continuava a não dar frutos. Era talvez como um sonho que nos faz esquecer a fome que temos.
E quem quiser recordar um pouco esses tempos, vá ver o filme de Manuel de Oliveira com o mesmo nome em que este 37º. filme do citado realizador, 101 anos de idade na altura da realização, nos faz uma história sobre D. Sebastião. Deixemo-lo falar, Esta obcecação histórica e utópica do Quinto Império, parece voltar a ser realidade. Aliás, já ensaiado pela ONU e agora com profunda convicção se processa com a União Europeia. Entretanto, está o mundo submetido hoje a uma espécie de retorno à Idade Média sob um implacável terrorismo que vitima inocentes, e que perturba tanto os EUA como a Europa, visando derrubar a civilização ocidental.
Mas regressemos ao parto. O menino nascera ajudado por uma daquelas mulherezinhas que Fernando Namora tão bem retrata com um pouco de ironia em “Retalhos da Vida de um Médico”, em que a parteira cujos pergaminhos lhe estavam a escapar das mãos para outra pessoa, neste caso saído de uma escola onde se ministra uma noção científica daquilo que fazem. Na sua ingenuidade ela pretendia ajudar. O nosso médico calou-se. Percebia a boa intenção. Mais nada. E, é claro, o prestígio da mulher ante o povo. Tinha de ir andando com cuidado…. Ela já ajudara a nascer praticamente toda a gente dali. É uma boa parteira, diziam.
O que é certo é que o nosso nascituro veio parar a este vale de lágrimas como diz o povo com a sua filosofia de prática da vida, rijo que nem um pero e berrando como todo o bebé que se preza e foi logo agasalhado e colocado num berço junto à lareira, não fosse perigar e morrer.
Pois bem, o menino cresceu, fez-se homem. Mas, o que é um homem? Não vou, como Bernardo de Brito, o douto historiador, aquele que era frade e nasceu nas Terras de Riba Côa, em Almeida, que já deu o seu nome ao primeiro e prestigiado estabelecimento de ensino da vila e também aos famigerados vinhos da região, “Frei Bernardo.” Não vou como ele, dizia, começar por Adão e Eva para contar a história de Portugal, talvez razão suficiente por não ter chegado aos primórdios da Fundação quando falece. Porque o homem, através do tempo, na sua essência, não mudou. Bem, mas o que é um homem? Em Portugal, no Estado Novo era todo aquele que pusesse em primeiro lugar Deus, Pátria e Família, que era como se sabe o país resultante da revolução de Gomes da Costa em 1926. Portanto Deus em primeiro lugar. Mas o que é Deus? Qual Deus? Como se sabe o nosso épico e lírico Luís de Camões harmonizou a sua obra com a mitologia pagã. Teve sorte que o frade que lhe censurou a obra, ser um jesuíta que amava as letras e punha ao de cima na sua consciência a arte pela arte, e aquilo lá passou. Até o canto nono. Porque falava principalmente no campo das alegorias. E as ninfas que os marinheiros receberam por prémio na ilha dos amores bem como a própria Vénus, como se sabe Afrodite para os gregos, que se entregou a Vasco da Gama, o grande almirante, representa bem decerto o futuro bem-estar dos portugueses devido à enorme fortuna que viria melhorar a vida de um país que já não vivia mal em relação aos outros da Europa, mas passou a viver melhor. Bem vistas as coisas, esses portugueses de antanho, eram feitos da mesma matéria dos vindouros, só que inverterem-se os termos. Os outros países passaram a viver melhor do que nós. Incongruências? Talvez. Só que com tanta riqueza a chegar só pelo comércio e a conquista bem podia provocar a ilusão de que nunca acabaria. Bem, mas quando se não pensa no dia de amanhã, depois é o cabo dos trabalhos. Perdidas as colónias sem infraestruturas e Sebastião José de Carvalho e Melo desterrado em Pombal, lá se foram as manias das grandezas.
Mas como ia dizendo, Deus em primeiro lugar. É claro que eu acredito em Deus, todos nós acreditamos. Temos de ter fé porque ela é que nos salva. Mas quem não tivesse fé em Salazar não se salvava de certeza. Em segundo lugar vinha a Pátria, ou seria que Pátria e Salazar eram uma e a mesma coisa? Grande estadista, inteligente, trabalhador, tirou o país da banca rota. E que aconteceu depois? Parou. Pararam-lhe as ideias? Porque é que os ingleses e os outros davam a independência às colónias e nós não? Era o medo da miséria? Talvez. Mas o inevitável é o inevitável e as coisas previstas a tempo surtem melhor resultado. Não teria culpa certamente, eram os que o rodeavam, porque isso torna-se evidente numa carta que o seu sucessor e grande estadista também, Marcelo Caetano, escreveu ao meu amigo escritor José Cunha Simões. Não o deixavam entregar as colónias, muito embora quando se deu a revolução do 25 de Abril (a revolução dos cravos, como lhe chamaram por não haver derramamento de sangue) já estivesse a negociar, secretamente, a independência da Guiné. Mas isso é outra história.
Bom, depois vinha a Família. Tudo bem. A família é o alicerce do estado. Os próprios E. U. da América do Norte prezam a família e, claro, a democracia.
Bem, mas o que é preciso para ser um homem?
Sacrifícios, fundamentalmente sacrifícios; instrução, havia uma obsessão por parte do governo por ela já que a maior parte da população era analfabeta. Escolas, justiça seja feita, havia-as aqui e ali, porque o Estado Novo ou fazia ou não fazia. Quando fazia valia a pena ver-se. Já que o dinheiro escasseava, a maior parte das vezes não fazia. E as escolas eram escolas e não barracas. Não tinham aquecimento central porque era uma coisa de que se não falava mas havia a braseira e as escalfetas para aquecer os pés. Enfim, ia-se vivendo.
E o que não faltava era autoridade. Por isso o Mussolini pagou e o Hitler também pagou. Nem oito nem oitenta. Uma coisa é a autoridade e a outra pôr o mundo num inferno a ferro e fogo. A autoridade era, claro, necessária. E era suficiente. Porque se não fosse, era o azar, era a polícia, era a PIDE, eu sei lá, um pandemónio. Mas como dizia Marcelo Caetano Apontem lá o primeiro país que não teve ou tenha uma polícia secreta.
Mas as crianças, Senhor, volúveis e inconstantes que só se lembravam do que deviam quando a vergasta ou a palmatória lho trazia à mente, às vezes alijavam a autoridade.
Basta por via de regra surgir um que leva os outros. Ou porque é mais velho, ou mais enérgico, ou por qualquer outra razão e assim nasce um líder.
A Macedónia adormeceu durante séculos sem que a história se apercebesse dela. E eis que repentinamente surge um desses predestinados, Alexandre, o Grande, que leva tudo atrás de si e, se não morre, acabava por conquistar o mundo. Só que não teve sucessor que o igualasse.
Quando andava na escola houve um desses mais em evidência que disse uma vez, 'Não vamos à aula, vamos para o castelo a brincar aos polícias e ladrões'. Depois, fartos da brincadeira e com a barriga a dar horas, regressámos à escola. Entrámos como se nada fosse. E a professora, como se nada fosse, mimoseou-nos a todos com uma dúzia de reguadas e como foram dadas com autoridade, nunca mais ninguém se lembrou de repetir.
Mais tarde no liceu também houve uma ação dessas. Em que o nosso querido amigo Bártolo esteve envolvido. Curiosos em saber a história? Ora oiçam sff:

A GREVE DA AULA

É em Maio, no mês das flores,
S’tá a natureza em festa,
Engrinaldada
É um convite ao passeio,
Ao absorver dos odores
P’los campos, p’los relvados,
Um convite de amores,
Ao falar das pequenas
E de coisas triviais.
Diz alguém a plenos pulmões
As suas razões:
“A aula que se lixe”,
Diz um tal Simões.
E como ele é líder
Lá vai a rapaziada
Toda entusiasmada
Que em vez de ir à aula
A aturar a chatice
Daquela famigerada, complicada
Que na prática
É a Matemática,
Se mete à estrada para cumprir denodada
As deliberações da mesa.
O reitor, era ele o professor,
Estranhou a míngua
De alunos seus:
Cinquenta por cento,
Mais um ou dois
A ganhar por pouco as eleições.
Mas, como estava o Bártolo
O nosso homem pensou:
“Eu sei quem foi que os aliciou
Mas se este não alinhou
Ele virá à razão”.
E a coisa passou
Fazendo de contas que foi a gripe
Epidémica, danada, a brincar c’oa rapaziada
Assim como quem já a espera
Em plena Primavera.

Aldeia pequena onde um dia um médico assentou arraiais até lhe surgir coisa melhor. Nunca tinha que fazer, ou porque as pessoas eram saudáveis ou porque a miséria só as impelia a chamar o médico quando já não havia remédio, levando próprio clínico a pensar de si para consigo “mas o que vieram cá fazer?”


2 - 1S

O médico olhava a paisagem, deliciado com o sossego e o zumbido das moscas, que ia sacudindo sem as molestar. Elas voltavam sempre, como se soubessem que um e outras necessitavam de companhia.
Os clientes não o procuravam.
“Terra de gente sã”. – Pensava ele, parecendo mais incomodado com o facto, do que se visse o consultório cheio de manhã à noite. Repetiu maquinalmente: “terra de gente sã”.
Desde que chegara, há sete meses, não tivera mais do que oito pacientes. Todos devido a diarreias por causa de alimentos contaminados com um produto novo e que os vendedores garantiam ser muito eficaz no aumento da produção. O resultado foi desastroso. Habituados aos alimentos criados a sol, água e vento, limparam com as mãos os frutos, sem cuidarem de os lavar e comeram-nos.
As violentas dores de barriga, as cólicas e as diarreias não se fizeram esperar.
A medicação resultou e ele tinha recebido sete galinhas, alguns enchidos, ovos e passara a receber pão fresco do forno da Joaquina, que aproveitava o encontro para lhe falar de tudo quanto se passava na terra e do santo padre que ali ia celebrar missa todos os domingos e confessar aqueles que se desviavam dos caminhos do Senhor e das indicações do padre.
Também ele se encontrava com o padre, de vez em quando. Ao princípio bastante sisudo e desconfiado, temendo talvez que o médico lhe pudesse tirar o lugar privilegiado entre o rebanho. Depois, convencido que o clínico não oferecia perigo e que até poderia ser um bom aliado, convidava-o para o jantar que fazia numa pequena quinta onde ele às vezes ficava para não ter de regressar à Guarda onde tinha uma bela moradia.
O médico olhava o espaço, onde a harmonia dos campos e das elevações convidavam ao devaneio, e recordava as recomendações do padre.
- A gente é boa, mas não lhe dê muita confiança. Têm de saber quem manda, caso contrário abusam. Depois sabe o que acontece?
O médico, não parava de comer, dizia-lhe que sim, com a cabeça, mas pouco se importava com o que acontecesse. Ele não ficaria por ali muito tempo. Esperava arranjar um lugar no Liceu da Guarda, como médico escolar de modo a suportar as despesas. Assim que pudesse entrava para o hospital e até para o Sanatório. Aquilo que ele gostava era de desenvolver os conhecimentos que aprendera na Faculdade. Sem praticar não conseguiria.
O padre continuou.
- Se lhes der conversa vai ouvir tudo o que se passa; tanto nos campos como dentro de casa. E ouve as histórias mais espantosas ditas com uma naturalidade e simplicidade que revela por um lado a pureza desta população e por outra a ignorância da vida. É bom que não lhes abra muito os olhos, porque senão julgam que isto é tudo igual e abusam. Beba mais um copo.
E o médico bebia regalado com o aroma do vinho do Côa. Ao regressar a casa dormia a paz dos justos sonhando as delícias do paraíso em terras de Castelmoro.
Agora, com a sinfonia mosqueira, o sol a adormentar o corpo, o médico recordava o padre e a população.
“O terror daquela gente era Deus. Era isso mesmo. Como é possível? Acima das suas dificuldades, dos trabalhos duros do campo, dos filhos e das vacas que pariam mal, estava Deus. “
O médico coçou o queixo.
“ Mas esta gente não vive para eles, vive, sem saber, às ordens do padre, que lhes transmite o pensamento de Deus e as Suas vontades”:
“Não deves rir do que não sabes, deves chorar no enterro de quem parte, não deves olhar para o sexo oposto e desejá-lo. Só de o pensares podes penar toda a eternidade no inferno.”
O médico esfregou os olhos. Começou a sentir-se mal. Parecia ter acordado de um horrível pesadelo.
“Tenho de me ir embora daqui. Chega de boa vida. É melhor partir antes que comece a pensar seriamente no que pode acontecer a este País.
E ao ir-se embora não deixou de continuar a pensar no método do padre. Deus era o motor de tudo, criador, senhor, orientador e controlador. A natureza não tinha nenhuma palavra a dizer.
De certo modo há uma certa analogia comigo. Já andava no liceu, mas o pároco dominava-me de tal modo que eu acreditava em tudo. Já tinha umas noções de geologia mas não raciocinava. Muito piedoso, gostava da companhia do sacerdote. Quem for a Castelmoro e se dirigir ao castelo verá a porta de entrada meia soterrada, lá dentro a cisterna e o resto ruínas. É evidente que se nos lembrarmos das descrições medievais podemos imaginar por ali aqueles combates com castelhanos e mouros tão bem descritos por autores portugueses e o resto das ruínas. Há quem diga que existia até um subterrâneo para fugir em caso de assédio e depois de se acabarem os mantimentos. E há histórias que se contam. Por exemplo…

ALMA ATÉ ALMEIDA

Como se sabe, Napoleão era um grande cabo-de-guerra. Mas Deus nos livre destes indivíduos, que desgraçam a humanidade! Foram três as invasões que impôs aos portugueses e uma delas assolou a região de Gradiana. Quem entrar na Sé poderá ainda ver vestígios do vandalismo dos franceses com o seu slogan 'Liberdade, Igualdade, Fraternidade'. O entusiasmo dos portugueses que tinha subido bem alto com essa doutrina da revolução francesa, arrefeceu quando lhe começaram a queimar as barbas (e do vizinho também!...); pegaram logo em armas contra esses pregadores do Demo. Afinal, a tal liberdade era um meio de escravizar os outros. Aboliram a monarquia mas fundaram um império que se estendia por toda a Europa. O nepotismo napoleónico a substituir os reis europeus pela família e pelos amigos... Se não fora o 'general Inverno' na Rússia talvez levasse a dele avante e a colonização da Europa se tornasse um segundo império romano, desta vez com a capital em Paris e a 'pax francesa' a substituir a 'pax romana'. Há quem diga que o sol napoleónico começou a esmorecer com a invasão de Portugal, à custa de muito sangue e de muitas lágrimas, claro. Lá foi parar a Santa Helena, essa ilha do Atlântico, onde passou a imperador só em imaginação, pois que se tornou prisioneiro dos ingleses e onde morreu, portanto com o império desfeito.
A história diz que entraram por Almeida, então a capital militar da região centro pois que tinha uma fortificação modelar. Só abalroada devido à traição de alguém que pegou fogo ao paiol da pólvora e abriu um brecha na muralha, já que, como dizia Camões, também dos Portugueses traidores houve algumas vezes:

"Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos,
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos,
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
DIZEI-LHE QUE TAMBÉM DOS PORTUGUESES
ALGUNS TRAIDORES HOUVE ALGUMAS VEZES."

Pois bem, contavam os antigos, já que a história lhe chegou por tradição oral, que quando as tropas de Massena que em 1810 passaram por Castelmoro (que logo foi conquistado pois apenas tinha dezassete militares ), levavam consigo um tenente, sobrinho do general, que foi ferido naquelas paragens. E ficou desesperado. O ordenança amparou-o e ia-o animando pelo caminho dizendo "alma até Almeida meu tenente". A ideia que o soldado queria comunicar ao seu patrão era de que em Almeida seria tratado dos ferimentos porque aí se encontrava um hospital militar.
Daí a origem da expressão, com sentido metafórico, já se vê, de quem quer incutir ânimo em alguém que o não tem e precisa dele:
"ALMA ATÉ ALMEIDA"

No castelo, dada a preponderância das ruínas, havia uns barrocos bem visíveis, que o padre, um dia aproveitou para evidenciar a omnipotência de Deus “basta olhar para estes grandes penedos para nos convencermos que é Deus que nos governa”.
É evidente que, como todos nós sabemos, foi o magma arrefecido que os produziu. Mas eu não raciocinei e acreditei.
O médico acabou por obter o que queria: um lugar no liceu de Gradiana, uma cidade próxima que recebia então os alunos de todo distrito.
A aldeia não lhe dava lucro, foi apenas um trampolim para subir na escala financeira.
As pessoas, se já eram pobres, mais pobres ficavam com as doenças que os afligiam.
Como se sabe, durante muito tempo, as fontes de água potável eram de mergulho, sujeitas a receber no seu seio toda a espécie de porcaria, fonte de males do corpo humano. Graças a estas insalubres águas, ainda há pouco que o médico havia levantado voo para os seus horizontes melhores, para, segundo os dizeres do bom do pároco, o povo ser posto à prova na sua paciência com uma epidemia de tifo. Segundo a bíblia, Deus já castigara o povo egípcio com as sete pragas porque o faraó não deixava sair os judeus para a Terra Prometida. E então, o grande chefe deste povo que era Moisés pediu a Deus o castigo dos seus carrascos. Até sabemos que passaram o mar Vermelho que se abriu, patenteando uma magnífica passadeira ao povo eleito. Quanto aos egípcios que os perseguia, fechou as abas e afogou-os. Deus é assim, quando protege é pai, quando castiga é juiz.
É evidente que a ciência, sempre progredindo nas suas descobertas, chegou à conclusão de que o sítio onde passaram os judeus, na maré baixa tinha uma altura suficientemente diminuta para não afogar fosse quem fosse. Na preia-mar, não havia hipótese de salvação. Mas isso é outra história…
Ninguém fosse alegar causas naturais ao bom do padre.
Portanto foi Deus que mandou o tifo, ou para castigar o povo que era pecador, ou para o pôr à prova…
Muitos morreram, mas nem tudo é mal. Houve ajuda e muitos se salvaram também.
Numa das terras circunvizinhas havia umas senhoras muito ricas e que não tinham filhos. Como também eram muito religiosas, um belo dia, depois de um brilhante sermão do ‘reitor’ num dia de festa da localidade, resolveram por conferência familiar adoptar uma criança. E ainda não estava adotada, “seria um médico”, nado, criado e depois educado com o objectivo final e único de servir numa daquelas aldeias próximas, a fim de ajudar aquela gente.
Não é que aqui não me venha á ideia “A Canção de Lisboa” do realizador Cottinelli Telmo, com os impagáveis actores Beatriz, Costa, Vasco Santana e António Silva. É claro que o “Vasco” acabou por tirar o canudo pois que no exame final foi louvado pelos mestres, já que, segundo as “ingratas” das tias até sabia o que era o “pneumogástrico” (o décimo nervo craniano). “Ingratas” no dizer do Vasco pois que o abandonaram suspendendo-lhe a mesada 'por ele andar na boémia em lugar de estudar'. Tomou ‘juízo’, como sabemos, e acabou por se formar em médico como estudante trabalhador a cantar o fado.
Mas o nosso menino e futuro médico portou-se sempre na linha, alegrando o coração das tias com notas altas e formando-se com distinção.
Acontece que a epidemia surgiu precisamente no momento em que nosso médico, lá na Terra dos Doutores fazia já o seu juramento de Hipócrates.
E as tias opinaram, vais para Castemoro onde as pessoas precisam de ajuda. E assim foi. Ajudou-as na epidemia salvando muita gente e no futuro um santo homem que lembra bem o Nicolau Breyner no papel de João Semana n’ “As Pupilas do Senhor Reitor”, telenovela baseada no romance de Júlio Dinis com o mesmo nome, como sabemos.

4 - 2S

Dois anos depois de estar no Liceu e de prestar serviço no Hospital, o Doutor Bártolo preparava o casamento com uma bela e apetitosa Minhota que também dava aulas no Liceu.
Era um jovem invejado não só pela felicidade que irradiava como pela mulheraça, expansiva e muito bonita que iria desfrutar. Mas o homem põe… e o médico recebe uma convocatória da Região Militar para aí se apresentar imediatamente. Como já tinha cumprido o Serviço Militar não se preocupou. Foi descansado à entrevista. Quando regressou vinha destroçado. Estava mobilizado para o Ultramar.
Foi ter com as madrinhas que eram senhoras de conhecimentos, dinheiro e poder.
Contou-lhes a sua desdita e a aproximação do casamento. Aqui é que foi o seu erro. As velhas senhoras detestavam a namorada do médico, achavam-na demasiado liberal, já a tinham visto fumar e sabiam que frequentava os cafés e ia a festas. Numa frase: não servia para o dente do médico.
Além desta rejeição, as senhoras orgulhavam-se de ter na família militares honradíssimos que nunca faltaram ao dever para com a Pátria. Tanto em Portugal como em França de onde eram originárias.
Disseram que iam pensar. Fizeram precisamente o contrário e moveram influências para que o jovem embarcasse no primeiro navio rumo ao Ultramar.
O jovem foi descansado. Nem o Estado seria capaz de recusar fosse o que fossem às senhoras Blois e Bella Coa.
Ainda não tinham passado oito dias, já o capitão Bártolo estava a entrar no Paquete Santa Maria, rodeado das velhas senhoras, que de lágrima no olho, lhe diziam que apesar de tristes estavam felizes por ele ir servir a Pátria.
- Mas o casamento? – Dizia o médico – capitão, enquanto a namorada o agarrava com vigor e o beijava sofregamente perante o olhar escandalizado das velhas senhoras, que mais graças enviavam a Deus pelo protegido ter sido desviado daquela mulher impudica e que nunca o poderia fazer feliz.
Quando o paquete se afastou o suficiente para Bártolo já não se aperceber do que acontecia em terra, as senhoras de Blois viraram ostensivamente as costas à bela Minhota e quando esta, sem perceber a atitude, quis despedir-se. Elas afastaram-na com desprezo e disseram-lhe.
- Escusava de dar aquele espectáculo!
As senhoras Blois entraram no carro, cujo motorista, de boné na mão tinha previamente aberto a porta.
A Minhota, sozinha na grande cidade, resolveu que ali não tinha mais nada para fazer e dirigiu-se para Santa Apolónia, de onde tomou o Comboio para as terras frias da Beira enquanto sonhava com os braços quentes de Bártolo e com os seus beijos escaldantes.
Mas Bártolo ainda não tinha entrado em Alto mar e já maldizia a sorte sempre que ele pensava que ia ser feliz nos braços e na compreensão da mulher amada. Nem o barulho infernal dos companheiros de viagem nem a doçura do mar lhe conseguiam dar alento.
O interior do agora promovido a capitão todo ele era sangue e dor. Sabia que alguma coisa falhara. Mas não conseguia ver o quê.
“Como era possível a alguém dizer não a um pedido das senhoras Blois e Coa? Elas conheciam todo o mundo. Como era possível?”
No espírito puro do jovem nem por um pequeníssimo momento passou a ideia que o ser humano tanto imita as doçuras de Deus como, rapidamente se transforma e toma as ideais maquiavélicas do Diabo, embora mantenha sempre uma face angelical e luminosa.
Agarrado à amurada parecia olhar o horizonte, embora não visse luz nem água.
Foi nessa posição que levou uma violenta palmada nas costas e ouviu uma voz conhecida gritar-lhe.
- Também caíste na rede, ó Bartolo!
Olhou quem lhe falava assim desabridamente e reconheceu o Peres, um companheiro de Coimbra, sempre bem-disposto, sempre pronto a farras e copos, mas que, por milagre ou inteligência também se formara em medicina.
- Como é que vieste aqui parar? Conta – insistia o Peres.
Bártolo encolheu os ombros.
- Parece que não vens de vontade.
- E tu, vens? – Perguntou Bártolo.
- Venho, claro que venho! Já estava farto de não fazer nada. Enfiado naquelas quatro paredes de noventa e tal mil quilómetros quadrados…
- E não te chegavam? – Disse Bártolo mais animado com a euforia do amigo.
- Claro que não! Aquilo não dá para um quanto mais para oito ou nove milhões. Aqui sim, respira-se! Olha para este mar! Olha para as sereias que passam.
- Não vejo sereias nenhumas.
- Não vês, mas imaginas! Olha à tua volta, alegra-te! Tu ainda continuas a ser o marrão que eras? Se calhar é por isso que estás triste. Descansa que em Angola também há livros, cerveja e pretinhas de sonho. Vais ver que depressa esqueces a tristeza.
- Não quero nada disso. Preferia ter ficado onde estava.
- Já casaste?
- Não.
- E estás triste? Anda inaugurar o bar. Vais ver que daqui a pouco estás feliz como eu.
- Deixei uma namorada. Ia casar.
- Olha do que livraste. Anda mas é beber um copo enquanto eles não fecham a torneira. Vais ver que tudo passa mais depressa do que imaginas.
E arrastado por um braço, Bártolo teve de seguir o Peres, empurrado aqui e ali, mas incapaz de gritar mais alto que não queria ir. O Peres tinha força e sede.

5 - 3P

O Ultramar dava que falar. Os Franceses já haviam perdido a Argélia. Não foi que a não defendessem, como se sabe possuíam um corpo de tropas das mais duras e aguerridas: a famosa Legião Estrangeira muito conhecida em todo o mundo. Mas quando um povo se levanta em massa, eivado de patriotismo, não há exército que lhe resista. E na Argélia aconteceu isso mesmo, morriam aos milhares, era um massacre, aliás bem documentado no filme do realizador Zoltan Korda e interpretação de Heath Ledger , Kate Hudson, John Clements, Ralph Rochardson, um épico adaptado de uma obra de A.E.W. Mason e conta a história de um tenente inglês que abandona o regimento na véspera de embarcar. É filmado no Sudão criando nas pessoas que o rodeavam suspeitas de covardia inclusive na sua belíssima noiva que lhe oferece quatro penas brancas como símbolo da desonra e da covardia. O tenente decide redimir-se, embarca disfarçado e comete os maiores actos de bravura através dos quais se documenta o desespero em que a França se encontrava já, para deter a onda de avalanche de um povo que queria, muito determinado, a sua independência. E a França resignou.
Como se sabe o terrorismo em Angola também rebentou forte. Era um razia autêntica. Só que nós ripostámos. Quem já assistiu àquelas conversas da televisão tem uma noção do sucedido, já que o testemunho não era ditado apenas por uma das partes, mas por ambas. É claro que nós ripostámos e bem. Alferes como o Robles que arrasavam aldeias inteiras quando colaboravam com o inimigo estavam bem presentes nas fileiras actuantes.
E de tal modo a acção se desencadeou e se desenvolveu que podíamos dizer a certa altura que pacificámos Angola. E então, dos massacres, passámos à Psico-Social. Quando o régulo era nosso aliado recebia comida, roupas e dinheiro… Tal como os meninos mal comportados levam palmadinhas no rabo e depois de se portarem bem recebem bicicletas, assim aconteceu no Ultramar Português. E chego a acreditar que o manteríamos indefinidamente com a nossa administração eficaz bem apoiada pelo exército.
Como os médicos eram fundamentais para o Serviço de Saúde, mobilizavam-nos, a bem dizer, a todos, ninguém escapava. E muito embora "as suas queridas tias” o recomendassem ao contrário, mesmo que se virassem a favor, não lhe poderiam ter sido prestáveis.
Portanto lá embarcou em Alcântara-Mar no navio Santa Maria, ao serviço exclusivo da tropa, sob o assédio de numerosa população que, para além dos familiares acorria em massa aos embarques.
Mais comovente era o choro das mães que no seu coração temiam não voltar a ver os filhos. Quanto às noivas, assoberbadas em beijos e carícias, afogavam o seu pranto no amor, pensando firmemente em ser-lhes fiéis. Eu, narrador, também passei por lá e ouvia muitas vezes frases como esta “há para aí mulheres de alferes que também têm colhões”. O que acontecia? A força do amor e carinho pelo amante, dava-lhe coragem, por simpatia, ou talvez por inconsciência, não sei, e lá iam elas com eles nas colunas de viaturas, arrostando com o perigo de emboscadas e minas pelo caminho, perdendo muitas vezes a vida por força desse mesmo amor. Esse traquinas é cego não é?!
Lá se fez ao mar o nosso alferes médico com toda aquela gente vestida de caqui amarelo, que era o traje de passeio para as regiões quentes. Viagem monótona onde campeava o jogo de cartas e festas carnavalescas à passagem do equador. Era costume.
Também por vezes a monotonia era quebrada por acontecimentos bem amargos.
Presenciei mesmo na minha frente um bem triste. Um soldado descuidou-se e, distraído caiu da coberta ao porão perdendo instantaneamente a vida. Vim depois a saber que era filho único. A família ficou desolada e, mesmo passado muitos anos, não havia dia nenhum que aquela mãe não se deslocasse ao cemitério a pôr um ramo de flores e a rezar fervorosamente.
Um tanto alienada pela dor, era comovente por vezes ouvi-la cantar canções ao filho de quando era bebé:

- O nosso Arnaldo tété,
O nosso Benjamim do amor
Há-de se feliz, tenhamos fé
Há-de ser um homem, um doutor!...

E a mulher continuava sonhando, como que alheada da realidade.
Claro que as pessoas protestavam contra a guerra do Ultramar e, de uma maneira geral lamentavam sempre a perda dos filhos.
Não me recordo de ouvir narrar nenhum caso semelhante ao do Alcaide do castelo de Faria ou coisa semelhante. É bem sabido que quando pediu aos castelhanos para o deixarem falar com o filho afim de entregar o castelo, no momento em que o abeirou aconteceu precisamente o contrário gritando-lhe, de modo que os castelhanos ouvissem bem "maldito sejas tu no inferno se não venderes cara a vida para não entregares o castelo".
Apenas me contaram um facto que os militares apelidaram de construtivo. Numa determinada vila portuguesa, o pai dum militar falecido, disse bem alto quando o filho foi enterrado "congratulo-me por teres sido um herói e teres dado a vida pela pátria".
O navio chegou por fim a Luanda onde aquele conjunto de batalhões que iam render os anteriores desembarcou. Sendo uma região tropical o calor apertava. Nos cafés imperavam as ventoinhas já que ao tempo o ar condicionado era apenas um mito. Cerveja fresca, gambas e outros mets, foi o regalo daquela gente que depois iria pagar com aborrecimento aquela euforia de visita à capital da província.
Além destes petiscos, ofereciam-se outros não menos deliciosos, como pretas e mulatinhas que adoravam “ganhar dinheiro” com os nossos militares.
O nosso médico, muito extrospectivo, é certo ainda nunca tinha feito amor com uma mulher.
- Vá lá doutor, então, isto é tão delicioso.
- Não quero, cheira-me a catinga, e agonio-me.
- Está bem, não sabes o que perdes.
E lá continuavam no farrabodó, comendo pretas e bebendo cervejas até que a saciedade os obrigava a parar.
O capelão pregava a sua doutrina por entre as pretas que, por norma construíam uma espécie de aldeia junto à messe dos oficiais e não longe do quartel a fim de colherem os frutos do amor mercenário. Muitas vezes as ouvi dizer, quando passava por lá com o capelão "O sr.padre não nos deixa ganhar dinheiro" porque, na sua inocência, fazer amor para ganhar a vida não era crime nem pecado. Mas à rapaziada não lhe importava, "não liguem ao padre que ele apenas quer 'vender o seu peixe e mais nada. E só compra que quer'", e lá continuavam no seu forrobodó. O Bártolo nunca foi capaz, tinha nojo. Bem lhe diziam, "elas são limpinhas, têm sempre uma bacia de água para se lavar", mas em vão.
Depois seguiram numa coluna de viaturas para Malanje.
Um pelotão de cavalaria escoltava-os, não obstante, por vezes os ataques traiçoeiros da guerra subversiva ceifarem muitas vidas. Mas a viagem decorreu sem problemas. Lá seguiram por aquelas picadas africanas com capim no meio passando os drifts com água por vezes a cobrir as rodas ficando não raramente paradas algumas viaturas que tinham de ser rebocadas pelos guinchos que possuíam à frente. Descansavam pelo caminho como habitualmente se fazia não se importando com o perigo já que o cansaço da longa viagem os obrigava a esquecê-lo. Tal temeridade conduzia como é óbvio a perda de vidas quando o inimigo andava por perto.
Malange era praticamente como todas as cidades, comparável a uma cidade de província do tempo, em Portugal continental. A elite era constituída fundamentalmente por funcionários públicos. À chegada havia um bailarico muito animado e o nosso médico viu-se logo assediado pelos principais a fim de assistir ao dito. A história repetia-se sempre porque aquelas mocinhas bonitas desejavam ancorar em bom porto e o médico, evidentemente, era o principal visado.
O nosso homem foi logo abordado pela filha de um administrador, e era uma "bomba" irresistível. Loira e bem constituída, era o que vulgarmente a rapaziada chama "uma lasca": os seios salientes, apetitosos, eram como romãs a pedirem para ser comidas. Lábios finos, um pouco carnudos, como constantemente a pedir para serem beijados. Tinha mais de um metro e setenta e foi a mulher ideal para um concurso de beleza que se fez na cidade e que ganhou. Ao tempo não havia oportunidades para singrarem na carreira de actrizes ou telenovelas, mas era gratificante, já que se via apreciada por toda a gente. Isso não seria possível nessa altura,numa cidade da metrópole mas por lá a abertura era já muito razoável. Ela queria de facto casar mas adiava sempre para a comissão seguinte já que, por norma, punha a fasquia muito alta e nunca teve a sorte de arranjar ninguém que não fosse comprometido.
- Olá Sr. doutor, então vem fazer a sua comissãozinha?
- Sim, minha senhora, não há hipótese de não vir porque os médicos são indispensáveis numa tropa. Por isso, se os outros não escapam, os médicos também não. Mas deixemo-nos de cerimónias. Trate-me por Bártolo.
- Muito bem, a mim trate-me por Micaela.
- Que lindo nome, Micaela . Então vamos dançar.
Evidentemente que a moça se enrolou imediatamente nos braços do médico. E naquele ambiente quente, a temperatura subiu mais entre os dois que instintivamente se apertavam e rodopiavam ao som da música. Ela atreveu-se mesmo a beijá-lo.

4P

Sabemos que o sonho comanda a vida, e a nossa Micaela foi sonhar para casa e teve como se costuma dizer “sonhos bem húmidos “
Agarradinha ao “seu Bártolo”, rodopiava, rodopiava sempre…
E de repente, não é que sente uma seta coração?!
Levou a mão ao seio esquerdo mas não havia sangue. A atmosfera era límpida num bosque bem bucólico bem à maneira clássica (sempre fora boa aluna a português), o sol brilhava resplandecente e eis que divisa por entre a abertura de uma ramagem um traquinas de um miúdo com um arco e uma flecha pronta a disparar…
Era o Cupido
E o seu querido Bártolo apareceu por ali e o Cupido “zás“ desfere-lhe também uma seta no coração.
Ela sempre gostara d “Os Lusíadas” e do canto nono, enfim…
Mas quem é o Bártolo no seu sonho doirado, nada mais que Leonardo, o cavaleiro enamorado que corre atrás de Efire, a bela ninfa por quem se apaixonara…
E naquela confusão dos sonhos, eis que instantaneamente a ninfa era ela e corria, corria, fugindo, sempre naquela ânsia sensual de se deixar apanhar num instante. Mas o amor é assim, tem de ser espicaçado, porque se nos damos logo, lá se vai o interesse.
E ele até lhe tocava mas ela sempre escapando que nem uma enguia…
E os pastores tocavam flauta e os anjinhos tambores…
Finalmente o enlace, de uma pureza, carnal, trepidante, celestial …
Mas estava no céu?
Acordou, estava a sonhar!... Ora bolas.
E o Bártolo? Mas isso foi ontem…
Bom, mas veio-lhe logo à ideia que tinha deveres a cumprir. Tinha de ir dar as suas aulas, no mato, fazendo a viagem de jipe.
O nosso Bártolo era amigo do oficial de informações e este avisou-o que tivesse cuidado com a noiva, pois naquela zona onde ela dava escola ia rebentar a borrasca.
Como se sabe, quando se trata de guerra subversiva, naquele tempo de incubação, tudo está calmo, como aquela mar chão que vai revoltar-se acossado pelo vento. De repente, surge a tempestade, tal como surgiu em Angola nas primícias do terrorismo: Sem ninguém esperar, os guerrilheiros entraram pela fronteira dentro e, segundo disse o Amadeu José de Freitas na sua reportagem de horror, até partiram as criancinhas aos pedaços e as comeram. Razão mais que suficiente para o Doutor Oliveira Salazar mobilizar o exército e ripostar pesadamente, com o apoio da população que ficou “mentalizada” com tais desacatos.
Convenceu-a a ir nas viaturas militares protegida pela tropa
Antes de continuar quero lembrar aqui o filme 'Oficial e Cavalheiro com Richard Gere, Debra Winger e outros. De vez em quando, aparece um filme que agarra as audiências e levanta os espíritos de todos. Assim acontece com este filme, uma intemporal história de amor, amizade e crescimento.
O solitário Zack Mayo (Richard Gere) entra na Escola de Candidatos a Oficiais, para se tornar num piloto da Marinha e em treze semanas pejadas de dificuldades ele aprende a importância da disciplina, do amor e da amizade. O implacável instrutor é interpretado brilhantemente por Louis Gossett, Jr. Este ensina a Zack que nenhum homem pode fazer tudo sozinho. Embora o sargento o avisasse sobre a leviandade das raparigas locais que querem engravidar com a intenção de apanhar maridos pilotos, Zack apaixona-se por uma (Debra Winger). David Keith é memorável no papel de um dos amigos e colegas de Zack.
Por via de regra os pilotos esquivavam-se ao laço da raparigas, querendo apenas passar o tempo.
É um pouco desta história que ali se passa também. Como era bela e formosa a Micaela colocolocou a fasquia muito alta. Virgem no primeiro namorou, começou tendo relações sexuais na mira de assim conquistar o seu casamento. E a história foi-se repetindo nas comissões seguidas até que passou a ficar obcecada por sexo ao ponto de ter relações logo nos primeiros encontros. Nós sabemos o que são os vícios. Sabemos que o drogado é capaz de roubar e por vezes até de matar para conseguir dinheiro para a droga. Ora o Bártolo, muito embora consentisse na 'marmelada', achava que não era próprio ir mais além. O resto teria de ficar para depois do casamento. E a nossa heroína passava 'as passas do algarve' para se controlar. O que iria acontecer? Mandar-se-ia a outro oficial e largava o Bártolo? Dilema difícil. Por um lado o médico era respeitado e, embora os camaradas conversassem com a moça, longe deles a ideia de irem mais além. Por outro lado ela também hesitava em se 'mandar' porque o partido do médico a atraía.
Que fazer?
Dado o que se sabia pelo oficial de informações, o comando militar resolveu enviar pelotões de escolta de cavalaria para Malanje e um deles foi enviado para a zona da namorada, secção de um tal furriel que era tropa cem por cento. Ele, habituado a viver entre aldeões era o que podia ser chamado um paisano e pensava muito bem de si para consigo que o rigor militar não era para ele. Espontaneamente antes de dizer mais nada, abraça-o na frente de muita gente. Um abraço fraterno, de amizade sincera. Mas o nosso homem não gostou.
Estava ele no seu consultório a fazer tratamentos de rotina, quando ouve uma voz trovão “dá licença”? Volta-se, era o seu “amigo” furriel. “Diga lá”. O homem perfilou-se de novo, impecável e digno na sua atitude militar e disse, ao mesmo tempo que fazia continência “o meu capitão dá licença que me queixe de si?”. "Mas porquê?", ripostou o Bártolo. “É que deu-me um abraço na frente de testemunhas, estando eu em serviço”
“Francamente”, pensa o médico…
E bem teria de levar uns dias de detenção se não fora a sua influência como oficial médico.
Segredaram-lhe ao ouvido que o condutor ao lado de quem seguia nos dias de trabalho se andava “a fazer” à sua bela lasca.
O homem ficou fulo de raiva mas não disse nada. Aguardou uma oportunidade e alguns dias depois chamou-o ao seu gabinete. Tinha já preparado um cavalo-marinho que escondera num armário e primeiro fez umas perguntas ao soldado.
- Olha lá, tu tens namorada?
- Tenho sim, Sr. dr. Na metrópole. E ela é-te fiel?
- Penso que sim.
- O que farias se alguém abusasse dela?
- Dava-lhe uma sova.
Neste momento o médico dirigiu-se ao armário e tirou o cavalo-marinho.
- Pois bem, constou-me que não te tens portado bem com a minha namorada.
- Isso é uma grande mentira.
Aqui, o Bártolo não se conteve e desferiu-lhe umas chicotadas com força.
- Por amor de Deus, Sr. dr., eu não fiz nada.
E as chicotadas continuaram até que o rapaz, já desesperado disse:
- Não me bata mais, por favor, que eu conto tudo.
"Logo da primeira vez que levei a D. Micaela, ela entabulou conversa comigo. Achei natural, as caminhadas aqui em Moçambique são longas. Não é preciso muito para se fazer um percurso como do Minho ao Algarve. Começou por me dizer:"
- És um belo rapaz. Nunca pensaste em te fazer modelo?
- Não, nunca pensei.
- Deves ter um 'monte' de raparigas atrás de ti.
- Nem por isso, acrescentei na medida em que começava a sentir-me um pouco envergonhado.
E, 'sem mais àquelas disparou'
- Olha, não me importava de fazer amor contigo.
Aí, eu encavaquei, sem saber o que dizer. Continuei com os olhos postos na picada, procurando fixar pormenores na tentativa de esquecer o que ouvira. Mas a 'miss' não desarmara.
- Então, encavacaste? Não dizes nada?
E eu calado.
Não conseguindo arrancar-me palavra, lançou mão da ameaça.
- Lindo menino, ouve com muita atenção o que te vou dizer "se não fores bom rapazinho e não fizeres o que eu disser, sabes o que vai acontecer? Vou dizer ao meu namorado que tentaste abusar de mim"
- Mas porquê, balbuciei aflito?
- Bem, pára a viatura.
E eu parei.
- Muito bem. Quando a viatura parou, abriu a porta e saiu. Chamou-me e disse "tira-me as cuecas". Eu hesitei novamente.
- Então, queres ir para a prisão?
Aí estremeci e comecei lentamente a fazer o que me mandara.
"Agora senta-te onde eu estava".
Eu obedeci. Paulatinamente, subiu para o estribo, entrou e sentou-se no meu colo de pernas abertas e voltada para mim, começando a beijar-me. Eu não colaborava. O respeito e o medo mantinham-me insensível. O meu papel era meramente passivo e ela não gostou. Olhou-me fixamente nos olhos, a dureza da sua expressão não deixava dúvidas, vai inverter os papéis e eu nunca mais me endireito. Deixei de pensar, deixei-me conduzir, abandonei-me e comecei a excitar-me. A sua língua trabalhava sem cessar mostrando bem "o seu estágio em anos anteriores". Bons mestres!... Tirou a blusa, pegou-me na mão e colocou-ma num dos seios "agarra", disse. Agora chupa. Confesso que com tanto domínio e ameaça comecei a gostar do jogo e deliciei-me com as 'ordens da senhora' que a seguir começou a afagar-me o membro que introduziu na boca e começou a massajar com os lábios até que, pouco a pouco foi endireitando. Chupou, lambeu, acariciou-me as bolas, tudo com uma adoração sem limites durante um bom pedaço, passando em seguida ao passo seguinte que consistiu em introduzi-lo na vagina. Mexeu-se ativamente durante uma boa meia hora e, virando-se de costas disse-me para lho introduzir no rabo o que fiz com agrado, gemendo durante outra boa meia hora seguinte. Fez mais um 'broche' e depois tudo regressou à normalidade e pude então seguir viagem".
E a história passou a repetir-se diariamente sempre que tinha de me destacar da coluna para a levar à escola onde dava aulas, indo depois juntar-me de novo ao grosso da coluna.
Por vezes o furriel perguntava o motivo da demora e eu argumentava que a senhora me pedia para ir buscar lenha e parti-la e outras 'ménages'. É mais que evidente que eu não fazia nada disso pois ela dispunha de um criado 'um mainato', possante, belo e bem constituído para todo o serviço que me deixou a pensar se não serviria também de gozo à insaciável "Emanuelle"... Como o médico era influente não fazia comentários.
Temos agora o nosso doutor com um ano de comissão e com direito a um mês de férias que pode passar, se quiser, na metrópole, para o que pode tomar um avião militar, um 'Nord Atlas' (aviões de transporte aproveitados da II Guerra Mundial) que fazem um vai-vem de Lisboa afim de carregar reabastecimentos da Manutenção Militar e outros apoios.
Dado que tinha um consultório de dentista (embora sem a especialidade, mas dada a carência em África, conseguia uma freguesia normal) não estava muito interessado, mas o comandante entusiasmou-o e a nossa Micaela também queria ir, pensando intimamente não o deixar repescar a namorada da metrópole. Foi-lhe dizendo que sim mas, no último momento, 'raspou-se sem ela' e lá foi matar saudades com a 'outra ', a sua querida minhota que deixara em Portugal Continental.
Na véspera pensou em se despedir da Moçambicana. Hesitou. Mas no marulhar dos pensamentos, não resistiu à ideia de de o fazer. Francamente, ela, lá no seu subconsciente, atraía-o sexualmente. Só que, bem, conscientemente os seus complexos obviavam a recusa a qualquer comprometimento sexual a sério... E, sinceramente, ninguém iria imaginar que ele, nos seus monólogos interiores, muitas vezes pensava de si para consigo, quando entrevia nos seus sonhos uma maravilhosa noite de núpcias, "será por detrás ou pela frente?" O homem tinha dúvidas quando os seus complexos sexuais o obrigavam a uma desculpa mental. Memória controlada pelo 'estar em sociedade' no seu perfil de equilíbrio? Talvez, ou pensando melhor, de certeza absoluta.
Acontecia-lhe sonhar muitas vezes com relações sexuais em que ele desempenhava um papel de 'voyeur', já que, nos sonhos, a vigilância dos nossos impulsos sexuais, a censura social, desaparecem e, então, naquele relax mental da visão onírica, tudo é permitido ao ser humano que dorme...
Já dissemos que ela tinha lá na escola para o seu ménage, um negro atlético, elegante e charmoso, que devia ser a 'perdição' das donzelas da sua tribo.
O nosso doutor entrou no jipe que conduziu serenamente pelas picadas que conduziam à morada da professora sua amiga.
Devido ao calor e ao eremitismo do lugar, as janelas da casa encontravam-se abertas e ele, ao penetrar na cerca que envolvia a casa divisou através dela dois vultos que se movimentavam. Ainda pensou dar meia volta e ir-se embora já que a sua intuição lhe segredava qualquer coisa de estranho e... "privado". A sua curiosidade, no entanto, prevaleceu, o que o levou inadvertidamente a uma lição de sexo. Contornou o ângulo de visão a fim de não ser eventualmente notado, conseguiu uns arbustos donde podia ver sem ser visto. E, ó espanto dos espantos: Desenhou-se-lhe um filme em que os atores eram, nem mais nem menos, a sua amiguinha em pleno desempenho de relações de rapariga solteira ninfomaníaca com seu criado 'para todo o serviço'. Dali, conseguia ouvir as ordens da senhora que se satisfazia numa fúria libidinosa assinalável 'agora deita-te de costas', e o negro submisso obedecia. Ela, cuidadosamente colocava-se por cima, de costas, apoiando-lhe as mãos nos ombros e os pés nas coxas e, numa posição de equilíbrio, introduzia o membro na sua vagina e movimentava-se naquele vai-e-vem tão velho como o mundo durante um tempo interminável. Logo a seguir passava a outro quadro, pois ela conhecia todas as posições eróticas da sua longa prática das "comissões de serviço". Agora fazia sexo anal, logo a seguir, fazia sexo oral e o nosso amigo sem conseguir arredar pé.
Mas acabou por dar meia volta um tanto enojado com o espectáculo mas, ao mesmo tempo, nada surpreendido com as atitudes da rapariga debochada ao longo do tempo. E foi pensando que o melhor seria ficar 'de bico calado' fazendo de contas que nada presenciara.
E o pensamento voou para a sua querida Micaela. Num grande frenesim, veio-lhe à mente um turbilhão de ideias que tinha pressa em passar para o papel. Encontrou por acaso o administrador de posto daquela zona, o Sr Roberto e, como habitualmente, pararam as viaturas e entabularam conversa. Passavam umas autóctones que se dirigiam a uma cantina próxima reabastecer-se de tudo o que precisava, já que era o comércio do mato, uma espécie de "armazéns do chiado" em ponto pequeno onde havia de tudo. Estas cantinas eram a origem do enriquecimento de muitos portugueses africanos "pelo seu trabalho árduo", não falando já, é claro, naqueles que enriqueciam depressa porque as suas qualidades de idoneidade moral e respeito pelos direitos de um 'próximo fácil de enganar' deixavam muito a desejar. Despidas da cintura para cima, apenas com uma tangazinha, mas com uma naturalidade e candura como as nossas mulheres mais púdicas vestidas da cabeça aos pés... "Eu bem 'prego', vistam-se, ponham uns trapos em cima dessas mamas, mas lá vão sempre transgredindo e 'aos montes'. Dirigiram-se para a sede do posto administrativo tomar uns whiskies como era habitual sempre que se encontravam. É claro que, dada a distância a que os postos administrativos se encontravam da cidade, os seus habitantes tinham pouco com quem conversar e, assim, 'agarrou o médico até à noitinha' e, quando o administrador disse que ia ligar o motor que produzia a energia elétrica, pediu-lhe caneta e papel para escrever uma carta à namorada.
"Desculpa não ter escrito há alguns dias. Sei que que lutámos bastante, mas ninguém disse que era fácil. Todas as discussões que tivemos, cada minuto que vivemos separados, torna o nosso amor mais vigoroso, mais forte. Não há palavras que possam traduzir os sentimentos que me despertaste, ou quanto o meu coração pulsa mais forte quando recebo alguma mensagem tua, ou quando sorris ou dás gargalhadas quando eu digo piadas. Não importa que tu sejas eternamente o meu mundo, a minha vida, meu tudo! Só há uma coisa que te pode levar a imaginar o quanto tu necessitas de alguém e amas essa pessoa. Quando chegas à conclusão que a vida não tem sentido sem eles, ficas doente. Em cada noite que passa, fecho os olhos e, logo, sinto-te ali a meu lado, dentro do meu coração. Isto está certo, é verdadeiro, sinto-o no meu âmago, tudo acerca de ti está certo. Cada dia que passa o meu amor por ti torna-se maior. Maior que ontem, mas apenas metade daquele que será amanhã. És para mim coisa rara, uma jóia preciosa. Tu és a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida. Rezei a Deus, ele ofereceu-me a ti de presente, um presente para além de qualquer expectativa, para além de alguém que eu algum dia poderia procurar. És aquele milagre que só poderia ser uma dádiva dos céus. O milagre que tornou a minha vida muito mais maravilhosa do que eu algum dia imaginei. Cada minuto que passa aumenta mais e mais a minha empatia para contigo. Só desejo em cada momento atrever-me a olhar bem nos teus olhos e agarrar-te, possuir-te poderosamente. Expressar-te o quanto te amo. Dizer-te que tudo está bem. Que estarei sempre aqui e que nada pode mudar isso. É triste porque não posso fazê-lo agora, mas sei que há-de chegar o dia em que hei-de acordar e poder olhar a tua face ali, bem a meu lado. Tão pequenina e engraçada. Os teus lindos olhos negros, os teus compridos cabelos pretos e a tua gentil cara fofinha, que tenho memorizada milímetro a milímetro. Direi a mim mesmo que sou o homem mais feliz à face da terra. Obrigado por me teres oferecido o teu coração. É a maior dádiva que eu já alguma vez recebi e prometo não a deixar fugir. Não importa a distância a que nos encontramos, ou as discussões que possamos voltar a ter. Mas o que eu decerto estive a tentar dizer-te durante todo este tempo é que eu te amo, Micaela, não sei como, é certo, mas sei que te amo. Mais que tudo neste mundo. Será em breve que os nossos sonhos se tornarão realidade."
Fez-se noite. O administrador insistiu para que ficasse. Jantaram opiparamente: uma sopa de hortaliça que cultivava na sua horta tratada carinhosamente por autóctones que tinha ao seu serviço, e a familiar papaia, criada abundantemente naquelas paragens e cultivadas com tanto carinho pelos denodados padres que, tratando os autóctones com carinho cristão, lhes conseguem incutir aquela disciplina clerical, neste caso aplicada à agricultura e a outras artes artesanais. Muito pesaram sempre as ordens religiosas para o progresso, sempre que um atraso evidente se faz sentir. Uma segunda edição dos monges de Alcobaça que fizeram daquela terra inóspita do centro do país um éden terreal.
Seguiu-se peixe grelhado pescado nas águas de Moçambique e que conservava congelado no frigorífico a petróleo, eletrodoméstico indispensável naquela região quente. Depois um guisado de goma que não era preciso comprar, pois que ele mesmo as matava quando ia caçar à noite. O seu jeep possuía holofotes potentes no tejadilho que encandeavam os animais que eram assim facilmente abatidos a tiro, tudo bem regado com bom vinho importado da metrópole e salada cultivada também na sua horta. Veio depois a sobremesa que, além dos frutos tropicais, tinha também à escolha os nossos frutos metropolitanos como uvas, maçãs, morangos e outros. Houve também doçaria pois a senhora era exímia cozinheira.
Depois jogaram o póquer. A mulher do administrador era uma mulher muito bonita, bem proporcionada e bem falante. E, como é óbvio, sentou-se na mesa de jogo ao lado do médico e de frente para o marido. O isolamento no mato tornava-a sôfrega em relação a qualquer homem atraente que por ali passe. E começou o jogo. Cartas na mesa, fichas no monte e a D. Estefânia, era esse o nome da esposa do administrador, começou também o seu jogo de sedução com o médico, encostando 'a perninha', roçando sempre que se inclinava a colocar as cartas na mesa ou a recebê-las. Muito sensual, embaraçava o nosso amigo que se ia mantendo imperturbável. Mas como 'água mole em pedra dura, tanto dá até que fura' foi-se entusiasmando também até porque ia pensando de si para consigo 'ela não se atreve a fazer jogo aberto por causa da presença do marido'. E lá continuaram, serão fora naquele 'joguinho' agradável e, por vezes, quando 'o seu homem' era mais eufórico para o hóspede chegava mesmo a agarra-lhe o 'membro' dado o momento indefeso do Bártolo face ao anfitrião.
Acabado o jogo, o Sr. Roberto que possuía um gravador com música selecionada, disse que iam dançar. E começou uma valsa de Strauss com a mulher. Depois, ofereceu-a ao hóspede para que ele não se inibisse por cerimónia. E lá rodopiaram, rodopiaram, ela sempre com um entusiasmo crescente que acabou por comunicar ao par, coladinha a ele, e 'esfregando-se bem' sempre que a música o proporcionava. E logo que se começou a ouvir o primeiro som, o nosso médico não resistiu a espalhar a sua cultura geral "Richard Strauss nasceu em Munique a 11 de junho de 1864. Foi um compositor e maestro alemão, considerado um dos mais destacados representantes da música entre o final da Era Romântica e o início da Idade Moderna. Ainda criança, Strauss estudou violino e harpa com membros da orquestra da Ópera de Munique onde o pai, Franz Strauss, era primeiro trompista, e antes de completar dez anos, já havia escrito uma serenata para instrumentos de sopro.' E rodopiavam, rodopiavam, ela sempre 'encostando' e ele sempre falando 'nas óperas de Strauss há todo o tipo de mulher: Elektra, a revoltada, Salomé, a megera, protótipo da mulher fatal, a delicadeza a doçura e sabedoria da Marechala de Der Rosenkavalier, Ariadne auf Naxos, a mulher doente de amor, a Condessa Madeleine em Capriccio com o seu bom gosto e refinamento, incapaz de escolher entre um poeta e um músico - e Strauss aproveita para fazer a apologia da poesia e da música, as duas artes irmãs nesta ópera. Um subtítulo geral para as óperas de Richard Strauss poderia ser 'a mulher no divã' ou 'psicanálise feminina'. O poeta Hugo von Hofmannsthal, amigo do compositor, compartilhava dos mesmos gostos e das mesmas tendências, razão pela qual a colaboração entre os dois foi muito frutífera."
Veio depois a vez do tango argentino, uma verdadeira festa para a dançarina. Primeiro o 'frete' com o marido, depois a euforia com o Bártolo, em que a dança das pernas se estendia bem para lá da arte, acariciando, num contínuo alternado, o membro do doutor que endurecia, endurecia...
Os pombinhos fizeram a festa e o administrador quis também fazer a sua. Foram à caça. O doutor nunca pegara numa espingarda, a não ser naqueles seis meses de recruta em Mafra, a que os médicos também não se 'safavam', pois que nas suas viagens pelo mato, tinham também muitas vezes de se defender de emboscadas e ia então aumentando o treino. Rodaram pelas picadas fora a ver se divisavam animais, aparecendo frequentemente coelhos ou lebres que, a atravessar levavam um tiro de vezes em quando pois que a sua carne era também apreciada. Mas sempre à espreita de uma goma, pois , dada a corpulência do animal queriam apenas uma. Enfim, depois da passagem de um drift, ali bem à beirinha do mato, viram o brilho dos olhos de um desses animais, que parecia que tinham umas candeias a alumiar o caminho. Pararam o veículo. 'Atire', disse o administrador. 'Eu não tenho pontaria'. 'Vá, atire', 'Bem, então dê-me a carabina', 'aponte bem o animal' e, pum, a goma caiu. Deram-se por satisfeitos e foram dormir.
No dia seguinte, logo cedo, dirigiu-se para o quartel onde passaria a sua última noite antes de embarcar de férias. Havia no quartel uma mocinha muito gira, sobrinha do general de brigada que resolvera ir passar umas férias com o tio e que todos adoravam porque ela gostava de conviver com toda a gente. E por vezes o tio dizia 'em género de piada' "o que for melhor em combate é que a leva". Havia por lá um alferes, que era engenheiro e que ia partir no dia seguinte e, não sei se tomou as palavras à letra, e sem ser obrigado a particpar já em combates nem ações de 'limpeza', ofereceu-se para uma patrulha. Desnecessariamente, apenas por entusiasmo, foi arriscar a vida mais uma vez. Comandava o seu pelo tão e asua temeridade, nºão sei se em parte pela proximidade do regresso à vida civil, não tinha limites. Mas parece que os 'terroristas não queriam nada com ele'. Uma chuva torrencial africana e continuada ensopava-os até aos ossos, muito embora por cima da farda camuflada usassem uma capa impermeável. No regresso, porém, no silêncio enganador da noite em que apenas se ouvia o barulho da chuva ao cair nas árvores e no chão, foram emoscados. Umas rajadas de armas automáticas acompanhadas de granadas de mão prostraram meia dúzia deles, alguns com os membros separados do corpo e entranhas à mostra.
Espontaneamente me vêm à mente aqueles versos do Camões

«Cabeças pelo campo vão saltando,
Braços, pernas, sem dono e sem sentido,
E doutros as entranhas palpitando,
Pálida a cor, o gesto amortecido.
...
Correm rios do sangue desparzido,
Com que também do campo a cor se perde,
Tornado carmesi, de branco e verde.

O nosso alferes engenheiro da arma engenharia acabou por ir para a metrópole no mesmo barco do doutor, mas num caixão de chumbo viajando a alma para o o Hades onde o cão trifauce, guarda imlacável dos Infernos lhe escancarou as portas para entrar para sempre...
Não sei se estão lembrados da mitologia grega e da guerra de Troia. Como é por demais sabido, o grande herói dos gregos,Aquiles que matou Heitor, mas como sabem, Tétis, a mãe de Aquiles, quando este nasceu, mergulhou-o no rio Estige,afim de o tornar imortal, mas teve de o pegar pelo calcanhar que ficou de fora, portanto ficou com um ponto vulnerável 'o calcanhar de Aquilos' que foi a causa da sua morte quando uma seta envenenada o atingiu nesse ponto. Uma vez que que ele regressou de entre os mortos, foi-lhe perguntado o que sentia no Hades 'nada, é tudo oco'. Pois bem, o nosso alferes lá fez a viagem para o Hades, enquanto o seu corpo seguia para a metrópole onde havia de ser chorado pelos seus que amaldiçoariam a guerra colonial. Um quadro muitas vezes repetido, até que um dia o comandante supremo da Guiné escreveu o seu mui celebrado livro 'Portugal e Futuro', um prenúncio do 25 de Abril que pôs cobro a tantas mortes, afinal desnecessárias. Tudo tem um fim, todas as nações europeias haviam já dado a independência às suas colónias e nós, embora um pouco tardiamente, também o fizemos depois da revolta do 25 de Abril de 1974, como muitos ainda se lembram, embora a maior parte só tenha noções disso através do que já é história como a revolução do 5 de outubro ou a batalha de S. Mamede...
Foi-lhe facultado, como era habitual, um avião da força aérea portuguesa, um NordAtlas, cargueiro que transportava todo o tipo de carga, alimentos da Manutenção Militar, de Lisboa e não só, animais, militares mortos, militares feridos e alguns, poucos - ainda aparentemente intactos - que constantemente fazia o percurso entre o ultramar e a metrópole.
Para quem nunca viajou num avião destes, fica a saber que o vento entrava pelas frestas cuja carlinga de chapa, sem revestimento nem caixa-de-ar abanava em tudo quanto era sítio. O ruído do motor e do vento, em conjunto com os gemidos dos feridos, faziam uma sinfonia macabra ao passar com o olhar pelos esquifes dos camaradas mortos em combate.
Como alguém lhe tivesse descrito a 'cómoda' viagem que o esperava, o nosso médico resolveu ir falar com o comandante e virar o 'bico ao prego'. Sabia que uns militares que por vezes visitavam a unidade e que prestavam serviço em Lourenço Marques iam regressar à Metrópole no paquete 'Angola'. Não seguiram no 'Niassa' com o grosso das tropas que haviam findo a comissão de serviço porque tinham de entregar o material aos responsáveis da comissão seguinte. Por essa razão lhe foi facultada 'guia de marcha' num luxuoso paquete de passageiros.
E disse que gostaria de fazer a viagem com esses militares. O comandante, sem papas na língua respondeu-lhe logo 'Sim, senhor, mas tem de pagar a viagem à sua custa'. O nosso já amigo doutor não hesitou. Já tinha umas massas, para além disso, as tias eram ricas e queriam vê-lo, e, depois, nas suas incursões ao mato, quem sabe se uma mina traiçoeira, daquelas com que os 'terroristas' constantemente punham nas curvas das estradas, que por via de regra eram picadas, já se vê, ou em sítios onde menos se esperava, ou uma arma bem apontada de um atirador especial, mesmo de longe, não o iria fazer ir 'desta para melhor', numa fração de segundo, lhe veio isto tudo à mente respondeu prontamente 'está bem'.
Mesmo na véspera de ir embora,
Aproveitou o retorno dos camiões militares que transportavam os víveres de Nacala e lá foi na cabine de uma viatura e, chegado à cidade, depois de ir ao quartel buscar o bilhete que o comandante havia tido o cuidado de mandar tirar via rádio na estação de transmissões do quartel.
Mal põe os pés no barco, depara com uma bela rapariga, na 1ª. classe, já se vê, trajando um vestido azul belíssimo, olhos azuis de céu maravilhosos, busto sensual, lábios de romã, que o nosso homem fez um esforço para não 'comê-los'. Era sul-africana e disse 'bom dia' em inglês. O médico, educado, respondeu, e ficaram por aí.
Como se sabe, nestes navios turísticos, as festas são constantes e os bailes diários. As orquestras não estão lá para outra coisa: para tocar, e as pessoas dançam. Ao vê-la no baile, o nosso doutor perdeu a cabeça: foi à cabine mudar de fato e, como sabia que as mulheres, por via de regra caiam aos pés de quem usava farda, vestiu o uniforme de gala com as insígnias de médico e, meu dito meu feito, a nossa sul-africana em torneio de férias à procura de divertimento, caiu-lhe textualmente aos pés.
Dançaram, rodopiara, longas horas, até que cansados decidiram regressar às cabines. A rapariga estava habituada a conviver com portugueses em Pretória, na África do Sul, mais uma razão a acrescentar ao 'fascínio'. E não era nenhuma inocente. Ela era uma válida discípula desse hábito que os jovens de hoje chamam pura e simplesmente 'curtir'. E o curtir para ela era muito mais do que simplesmente dançar. Quando o Bártolo disse 'boa noite', a nossa 'lasca' agarrou-o pela cintura e disse pura e simplesmente 'kiss now' e, sem esperar pela resposta beijou, beijou o médico que, sem a defesa dos amigos para o proteger 'das garras das miúdas' se deixou ir enlevado nos beijos da 'miss' que o levou voando aos sete céus. Embalado, deixou-se conduzir por ela até ao beliche onde a rapariga começou logo, em jogo de sedução a despir-se, peça por peça... Já completamente nua esperou que o seu homem do momento fizesse o mesmo. E ele como que hipnotizado por aquele magnífico corpo sensual, não despegava os olhos, mas permanecia inerte. Ela, carinhosa, a cantar, começou a despi-lo:



Começou por lhe tirar o chapéu, que arremesso para longe, depois o casaco, as calças, a roupa interior, sempre lentamente, beijando-o sempre, acariciando-o. Mesmo naquela inebriação celestial, o Bártolo não podia deixar de pensar de vezes em quando 'É desta vez que me vão voar os três'.
Quando a nossa jovem chegou ao ponto de lhe tirara as cuecas, resolveu primeiro puxar o 'marsapo' cá para fora e fazer um magnífico broche'. Como que esfomeada, lambia, lambia, lambia, beijava-o com uma adoração como se fosse um deus, o deus 'falo' já se vê. Depois sugou com vigor e enebriamento, sempre segurando-o e afagando-o com muito carinho, até que resolveu passar à fase seguinte. Tirou-lhe completamente as cuecas, agarrou-o suavemente pelos ombros, deitou tronco na cama, erigiu as pernas e esperou que ele a penetrasse. A inércia do 'partner' não a atrapalhou, até parece que era um aliciamento porque ela percebeu que era a sua 'primeira vez'. Mas não fez perguntas, apenas, suavemente, agarrou-lhe no pénis, e , lenta, suavemente, foi-o introduzindo na sua vagina que 'esfomeada' o engoliu uma, duas, três... inúmeras vezes que lhe proporcionavam um gozo imenso que ela traduzia com gemidos de prazer que, de vezes em quando se transformavam em gritos estridentes. Passado um grande lapso de tempo, depois de ele se ter vindo parou. Mas redobrou de carícias e procurou a seguir meter-lho entre as mamas, desempenhando, já se vê, a parte ativa, ela é que mexia o busto para baixo e para cima procurando gozo eterno. Já cansados, dormiram. E ao acordar e, muito embora na companhia da beldade a tomar o pequeno-almoço, não pôde deixar de pensar que estava apto a dar o nó com a sua querida, amada minhota.



Escusado será dizer ao leitor o que se passou entre eles: enfrenesiamento de carícias, de beijos e abraços, um querer saber tudo num instante, uma rápida pergunta ansiosa "deixaste para lá alguma namorada", "é claro que não, tu és o meu amor eterno", e "vamos embora para Lisboa, que são quase horas de almoço", meu dito meu feito, entraram para o carro dela, trocaram efusivamente mais uns beijos e ei-los a caminho. Refeição principesca como dois namorados que se prezam, dançam numa boîte e depois vão a caminho de Castelmoro onde as tias ansiosamente aguardam. Separaram-se, como é evidente, já que a namorada era 'personagem non grata' em casa daquelas respeitáveis criaturas. É evidente que as queridas tias quiseram saber tudo e ele tudo contou à exceção dos episódios com a Misa. Como um filho pródigo, viu organizar-se um festim onde os amigos e amigas compareceram efusivamente e, é claro, as pretendentes faziam-se entender muito bem. Cantou-se, dançou-se, conversou-se... e o serão foi longo, ele sempre solícito a cumprir os seus deveres de anfitrião, até que por fim tudo regressou ao silêncio normal da aldeia, e, "francamente, já estava bem precisado", pensou.
Nos dias seguintes permaneceu na pacatez da povoação, deu umas consultas e pronto. As tias quiseram ir passear com o seu menino e foram. Visitaram a Espanha, foram a Madrid com os seus museus como o do Prado com suas obras de pintores não só espanhóis de fama internacional, como José de Ribera, José de Madrazo e o filho deste, Frederico de Madrazo, Esteban Murillo, Velázquez, Goya e outros, como também de outros países como a coleção de pintura francesa, resultado das relações hispano-francesas no século XVII. Esta reúne obras de pintores como Nicolas Poussin e Claude Lorrain, bem como de Van Loo e de Antoine Watteau.
Também a coleção de pintura alemã é assinalável, não pelo número de quadros que é mais reduzido, mas pela grande qualidade, albergando obras desde o século XVI ao século XVIII, dedicando diversas salas a pinturas capitais de Albrecht Dürer, Lucas Cranach, Hans Baldung e Anton Raphael Mengs.
E já agora não podemos deixar de falar das dezasseis salas da secção de pintura italiana que alberga obras desde a Baixa Renascença até ao século XVIII, de artistas famosos como Fra Angelico, Melozzo da Forlì, Andrea Mantegna, Botticelli, Tiepolo e Giaquinto, bem cono as extraordinárias obras de Ticiano, Tintoretto, Veronèse, Bassano, Caravaggio e Gentileschi.
Visita obrigatória foi ao quadro de Picasso, Guernica que, atualmente pertence ao museu Rainha Sofia.
Pintado por Pablo Picasso em Paris em 1937 para protestar contra o bombardeamento nesse ano à cidade basca de Guernica pela frota aérea de Hitler, o quadro andou pela Europa e Estados Unidos.
As tias tinham uma ideia mas um tanto vaga e o sobrinho achou por bem explicar-lhe as origens e o conteúdo do quadro:
Guernica: 350 por 782 cm, um painel a óleo da autoria de Pablo Picasso, 1937, por altura da Exposição Internacional de Paris, patenteado no pavilhão da República Espanhola, representa a catástrofe sofrida pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937, a pedido da fação de Franco.
Conta-se que, em 1940, com Paris ocupada pelos germânicos, um oficial alemão, diante de uma fotografia reproduzindo o painel, perguntou a Picasso se havia sido ele quem tinha feito aquilo. O pintor, então, teria respondido "Não, foram vocês!".
Dos 7.000 habitantes, 1654 foram mortos e 889 feridos. A destruição de Guernica foi a primeira demonstração da técnica de bombardeamentos de saturação, mais tarde empregado na 2ª. Guerra Mundial. O Mural constituiu uma visão profética da desgraça.
Entre as complexas imagens cubistas de "Guernica", a mãe e o filho é imediatamente interpretado. Uma criança morta, pende inerte nos braços da mãe. O grito da mãe está representado pela língua que sugere a um punhal ou um estilhaço de vidro. Formas semelhantes aparecem um pouco por todo o quadro. A angústia no rosto da mulher que segura a criança é especialmente penetrante, talvez aumentada pelo contraste entre o estilo do rosto e a representação mais convencional da criança. O quadro todo é um grito em si, um grito de aflição, de protesto, uma amostra viva do motivo essencial da criação do Cubismo: analisar os objetos para poder reconstitui-los sobre a tela, relevando a estrutura interna e os elementos que nos estão escondidos.
Durante muito tempo, este quadro, ficou exposto no Museu de Arte Moderna de Nova York, onde foi restaurado, antes de entrar na Espanha, em 1981, no Prado e depois no Rainha Sofia, a partir de 1992.
E lá iam, discutindo pelo caminho "mas a arte, o que é a arte", "sim, a arte, afinal o artista é um mentiroso, mas a arte é verdade" "Mas afinal, se há arte é porque há dinheiro, veja-se por exemplo os atenienses, logo que ganharam a hegemonia do comércio, contrataram Fídias, o grande escultor grego, e Ictinus e Calicrates, dois famosos arquitetos, que foram os responsáveis pela reconstrução, para transformar Atenas numa pérola de museu que ainda hoje ganha diariamente montes de visitantes", "a arte é habilidade, este é o sentido primeiro dessa palavra", enfim sempre "badalando" foram saciando saudades.
E palavra puxa palavra e o imperialismo entrou na conversa. "Então Atenas construiu toda aquela obra de arte com o dinheiro do comércio", aventou uma das tias, "Pois, disse o sobrinho, a única cidade grega eficaz na guerra contra os Persas". "Então e as outras?", "As outras pouco ajudaram, Esparta, a única que também podia ser eficaz dada a formação extraordinariamente dura que incutia nas suas tropas, sofreu a derrota das Termópilas devido à traição de um pastor, Efialtes, que ensinou os Persas a contornarem o desfiladeiro aniquilando completamente Leónidas e os seus 300 espartanos. Ainda havemos de ir à Grécia, às Termópilas, onde se encontra a estátua do rei Leónidas com a inscrição 'Caminhante, vai dizer a Esparta que morremos para cumprir as suas leis'. Sintomático é a resposta de uma delas, Tebas, quando lhe foram dizer que os Persas estavam a invadir a Grécia e que deviam ir ajudar. Respostas breve ‘Deixem-nos acabar os jogos que depois a gente vai combater os Persas'. Pois bem, depois que os Atenienses derrotaram o inimigo em Salamina, este retirou e então 'tomaram o freio nos dentes' hegemonizando o comércio e criando uma riqueza fabulosa. Também está aí a origem da ruína da Grécia pois as outras cidades não gostaram e levaram Esparta a declarar guerra a Atenas enfraquecendo a união dos gregos a ponto tal que se tornou uma presa fácil. Após a sua conquista pelos romanos em 146 AC só readquiriu a sua independência face à Turquia, em 1832 à qual se seguiram diversas guerras e ocupações estrangeiras até à sua configuração territorial atual, depois da II Guerra Mundial.
Paradoxos, imperialismo num país democrata".
Regressados à aldeia, foi depois a vez da namorada o incentivar a darem um passeio de longo curso. Decidiram-se por Israel mas os dois "pombinhos" não quiseram arrancar sem antes darem um saltinho a uma biblioteca para recordarem algo sobre o país. Pesquisaram e leram...
Se partirmos do Golfo Pérsico e traçarmos uma meia-lua, passando pelas nascentes dos rios Tigre e Eufrates, colocando a outra ponta na foz do Nilo, no Egito, teremos uma região bastante fértil, onde se desenrolaram os acontecimentos narrados na Bíblia. É a chamada "meia-lua fértil" ou "Crescente Fértil", dentro do qual está também a Palestina. Esta faixa de terra é regada por importantes rios, que condicionavam a vida do Orienta antigo. Foram os rios que determinaram o estabelecimento da agricultura, da sedentarização e das rotas comerciais por onde passavam as caravanas que iam desde a Mesopotâmia até ao Egito ou a Arábia.
A história do povo de Israel começa com Abraão, aproximadamente em 2.100 AC.
Ele morava na Mesopotâmia quando o Senhor o chamou e ordenou-lhe que escolhesse Canaã para seu povo habitar. Deus mimoseou-o como futuro Pai de um povo inumerável. Teve um filho, Isac que gerou Jacob que teve muitos filhos, entre os quais, o mais novo, José, do qual os irmãos tinham inveja por ser o preferido do pai. Por vingança venderam-no como escravo a uns ismaelitas que passavam e estes, por sua vez, a uns mercadores que iam para o Egito e, e o venderam a Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda.
Ganhando fama de bom interpretador de sonhos, acabou por ser chamado pelo faraó que andava intrigado com um sonho e que os seus adivinhos não conseguiam interpretar convenientemente.
Então disse Faraó a José: Eis que em meu sonho ao pé de um rio, sete vacas gordas de carne e formosas à vista, pastavam num prado sobranceiro.
Seguidamente outras sete vacas, mas estas feias e magras de carne, subiam após as gordas, e as comeram.
Então acordei.
Depois vi em meu sonho sete lindas espigas subirem do mesmo pé. A seguir, estas deram lugar a sete espigas secas que devoraram as outras. Então disse José: As primeiras vacas e as espigas boas representam sete anos de fartura, as outras vacas, magras e as espigas secas representam os sete anos de miséria que se seguem.
E, assim, José se tornou num homem querido do faraó tornando-se o seu conselheiro privilegiado. Esquecendo ofensas acabou por trazer os seus familiares de Canaã onde havia uma grande fome, recebendo terras do faraó.
As gerações posteriores multiplicaram-se de tal ordem que o faraó não só reduziu os israelitas à escravatura como mandava matar todos os primogénitos numa tentativa de diminuir a sua expansão. Um dos futuros patriarcas, Moisés, que tinha sido posto num cestinho no Nilo pela mãe, numa tentativa de o salvar, na esperança que a filha do faraó, Hatshepsut, que tomava banho nas imediações, o adotasse, o que de facto veio a acontecer tendo sido mais tarde designado para sucessor do faraó, o que não chegou a concretizar-se porque, Moisés tendo vindo a saber que era judeu, acabou por juntar-se aos seus finalizando num êxodo de 40 anos através do deserto (bem documentado no filme ÊXODO do realizador e produtor Cecil B. De Mille em 1956) por reentrar na terra de Canaã, reconquistada por seu irmão Josué, já que Moisés morrera à vista da Terra Prometida.
Após a sua conquista pelos romanos (Pompeu conquista Jerusalém em 63 a.C, altura em que se tornou um reino tributário do Império Romano), tornaram-se um povo sem Pátria. Inclusive, nos últimos dois milénios, dispersaram-se pela terra, a Diáspora dos judeus. Só em 1948 foi restabelecido o Estado de Israel.
Os judeus seguem apenas as leis do Torah (Antigo Testamento) até nossos dias. Jesus Cristo não é aceite como filho de Deus.
Os livros que o compõem, o Novo Testamento, são desconsiderados pela religião judaica. Ainda esperam pelo nascimento do Messias!
Israel é um país desenvolvido e uma democracia representativa com sufrágio universal, com um sistema parlamentar.
A economia do país, com base no produto interno bruto nominal, em 2008 situou-se entre as 41 maiores do mundo.
Israel está em primeiro lugar entre os países do Oriente Médio no Índice de Desenvolvimento Humano, publicado pela ONU, além de ser considerado pelo FMI uma das 34 economias avançadas do mundo e o país mais avançado da região em termos de regulamentações empresariais e competição económica.
Israel tem duas línguas oficiais, hebraico e árabe. O hebraico é o idioma principal do estado e é falado pela maioria da população. O árabe é falado pela minoria árabe e por judeus que imigraram a partir de países árabes. A maioria dos israelitas comunica razoavelmente bem em inglês, muitos programas de televisão são em inglês e em muitas escolas começam a ensinar Inglês no início das aulas.
Israel foi criado com o propósito de ser uma pátria para o povo judeu e é muitas vezes referida como o Estado judeu. A Lei do retorno concede a todos os judeus e os de linhagem judaica o direito à cidadania israelita.
O Muro das Lamentações é o local mais sagrado do judaísmo, com o Domo da Rocha ao fundo, em Jerusalém. A afiliação religiosa dos judeus israelitas varia muito: 55% dizem que são "tradicionais", enquanto 20% consideram-se "judeus seculares", 17% definem-se como "sionistas religiosos"; os outros 8% definem-se como "judeus haredi". Perfazendo até 16,2% da população, os muçulmanos constituem a maior minoria religiosa de Israel. Dos cidadãos árabes de Israel, que representam 19,8% da população, mais de quatro quintos (82,6%) são muçulmanos. Dos restantes árabes israelitas, 8,8% são cristãos e 8,4% são drusos.
A cidade de Jerusalém é um lugar sagrado para judeus, muçulmanos e cristãos, pois sedia lugares que são fundamentais para suas crenças religiosas, como o Muro das Lamentações, o Monte do Templo, a Mesquita de Al-Aqsa e a Igreja do Santo Sepulcro.
O Primeiro-ministro é o chefe de governo e chefe do Gabinete. Israel é governado por um parlamento composto por 120 membros, conhecido como Knesset.
Em 2009, os Repórteres sem Fronteiras classificaram Israel na 93ª. posição entre 175 países em termos de liberdade de imprensa, ultrapassada em termos regionais pelo Kuwait, pelo Líbano e pelos Emirados Árabes Unidos.
O turismo, especialmente o turismo religioso, é outra importante fonte de renda em Israel. Com um clima mediterrânico, praias, sítios arqueológicos e históricos, além da única geografia, o país atrai milhões de turistas todos os anos. Problemas de segurança de Israel afetam a indústria do turismo, mas o número de turistas continua em alta. Em 2008, mais de 3 milhões de turistas visitaram Israel.
Seguiram, pois, para Lisboa, para o aeroporto e l+a seguiram num jumbo para Israel. Não deixaram de contemplar o admirável quadro paisagístico que se nos oferece enquanto o 'monstro' não ganha altitude, e enorme casario, casario, o rio com seus barcos, as pontes o Cristo-Rei, os arrabaldes, as fitas de estradas movediças devido à intensidade do tráfico... As belas hospedeiras aproximaram-se com os seus carrinhos pois eram horas de almoço e o apetite a acicatava dada a longa espera no aeroporto para o check in. Bártolo não deixou de admirar as belas 'curvas' das raparigas pois que, depois qu namorara a Micaela passou estar mais atento ao impacto personalizado do sexo oposto. Depois acresce o facto de já se encontrar 'iniciado' e isso conferia-lhe uma certa simpatia charmosa que imanizava as moças.